Rosanita Campos é vice-presidente do Partido Pátria Livre, jornalista e presidente da Associação da Amizade Brasil-Coreia. Ela é uma importante personalidade nas relações de amizade entre o Brasil e a República Popular Democrática da Coreia e há muitos anos realiza um grande trabalho de disseminação da realidade da Coreia. Esteve no País muitas vezes em diversas épocas diferentes e foi condecorada pelo Estado coreano algumas vezes. Além disso, é tradutora e seus mais recentes trabalhos de tradução se concentraram nos 8 volumes da obra «Memórias no Transcurso do Século», a autobiografia do Presidente Kim Il Sung, das quais 4 volumes já foram traduzidos e publicados no Brasil. Pela importância de Rosanita no trabalho de construção de uma visão mais embasada e revolucionária sobre o povo coreano e sua Revolução, nós reproduzimos a seguir um importante relato feito após sua viagem à Coreia em agosto desse ano durante uma série de homenagens a Kim Il Sung e Kim Jong Il, dirigentes da Coreia. Confira!
Uma viagem à Coreia Popular
(Com os próprios olhos e com a própria cabeça)
Por Rosanita Campos
Às vésperas do início de mais uma manobra militar entre os EUA e a Coreia do Sul – “Ulji Freedon Guardian” em sua 17ª edição e que se consuma todos os meses de agosto de cada ano como ensaio de agressão à RPDC, o povo coreano e seu governo popular socialista realizaram um grande encontro internacional em que reuniram mais de 500 personalidades de todo o mundo (66 países) que foram à Coreia ver com seus próprios olhos os avanços na vida do povo, os progressos na indústria, na construção civil, no comércio, no turismo, e o impressionante desenvolvimento técnico-científico nas áreas da saúde, educação, indústria e agricultura além de seu vitorioso programa nuclear para a autodefesa, orgulho e segurança para todo o povo.
Estive em Pyongyang durante o mês de agosto participando do “5º Festival Internacional de Homenagens aos Grandes Homens do Bektu” promovido pelo Comitê de Relações Culturais com o Estrangeiro e por um Comitê Internacional Organizador composto por pessoas de vários países de todos os continentes.
Dentre as atividades e discussões, exposições de livros, apresentações artísticas de música, dança, teatro e poesia aconteceram atos de solidariedade com a Coreia socialista e a luta de seu povo pela reunificação da Pátria, pela soberania e integridade territorial da RPDC, e em apoio ao progresso da construção do socialismo no país e o desenvolvimento de sua capacidade de dissuasão nuclear para a garantia da paz na Península Coreana e em todo o mundo.

Meu primeiro dia em Pyongyang, e de algumas delegações que já se encontravam ali, foi acordar às 6 da manhã para viajar duas horas de carro para uma visita ao Palácio da Amizade Internacional na cidade de Myohyang, uma agradável cidade de veraneio ao pé do monte Myohyong com muitas nascentes de água mineral e um grande templo budista preservado e em pleno funcionamento. Em Myohyang, Kim Il Sung escreveu o prólogo de suas “Memórias – No Transcurso do Século” que está no primeiro de seus 8 volumes, num dia primaveril em abril de 1992, poucos dias antes de seu encontro com Claudio em Pyongyang. O Museu em si é uma obra de arte da arquitetura tradicional coreana e preserva a história das relações internacionais dos grandes líderes do povo coreano através da exposição dos presentes e condecorações recebidas por eles de todas as partes do mundo.
As primeiras atividades em que participaram todas as delegações estrangeiras foram a visita ao imponente Palácio Kunsusan para homenagear Kim Il Sung e Kim Jong Il e em seguida a visita à casa natal do grande líder Kim Il Sung em Mangyongdae onde levamos flores num belo dia de sol de verão em memória de sua luta à frente do Exército Popular da Coreia para expulsar o Japão, invasor e colonizador da Coreia, e brindar com as águas claras de Mangyongdae a vitória na luta Antijaponesa e anti-imperialista e pela Independência do país.

A abertura solene do 5º Festival Internacional se deu no magnífico Palácio dos Estudos do Povo e contou com a presença de Kim Yong Nam, membro do Presidium do Secretariado do Comitê Central do PTC e Presidente da Assembleia Nacional Popular Suprema, de Kim Ki Nam, membro do Bureau Político do Partido do Trabalho da Coreia e Vice-Presidente do Conselho de Estado e Kim Jong Suk, membro do Comitê Central do PTC e Presidente do Comitê de Relações Culturais com o Estrangeiro que compartilharam a mesa diretora dos trabalhos com representantes dos comitês organizadores internacional e local e membros de partidos políticos amigos, como o Partido Pátria Livre que coube a mim a honra de representar.
No dia seguinte partimos cedinho para o aeroporto e em dois grandes aviões para a cidade Samjiyon, na fronteira com a China, para o “Encontro de acolhida ao Sol no Monte Bektu” onde visitamos o Conjunto Monumental de Samjiyon, amplíssima praça no meio da floresta na entrada da cidade com vários conjuntos de monumentos relativos à guerrilha antijaponesa e à luta antifascista dos coreanos onde há uma belíssima estátua de Kim Il Sung jovem, à época da guerrilha, e assistimos uma brilhante apresentação cultural de música e dança tradicionais infantis oferecida pelo Comitê da Municipalidade que também nos brindou com um acolhedor jantar ao ar livre com a sofisticada culinária coreana que aprecio tanto e onde não faltou o tradicional Kimchi.

Ao amanhecer subimos até o pico do Monte Bektu onde realizamos um ato político de solidariedade à Coreia e em homenagem aos grandes líderes do Bektu. Confesso aos leitores que me surpreendi com a beleza do lugar e o prodígio da natureza que é o lago Chon. Um lago vulcânico no pico do monte, que com suas águas de um azul tão intenso nos convida o tempo todo a não parar de olhar e admirar, dando-nos a impressão de que estamos na fronteira com o céu. E partimos para a visita ao acampamento secreto do Bektu, lindíssimo lugar cheio de história à beira de um riacho cristalino onde ficava Kim Il Sung no comando da Guerrilha Antijaponesa e onde nasceu Kim Jong Il.


Voltamos a Pyongyang radiantes com a natureza que caprichou no Monte Bektu e no lago Chon, e com Kim Il Sung, por seu patriotismo e sensibilidade com seu povo ao ter transformado o lugar histórico merecidamente em orgulho dos coreanos como seu monte ancestral, sede e base da luta vitoriosa de todo o povo contra a escravidão e a dominação estrangeira. Não por acaso, apenas 5 anos depois da expulsão do Japão do solo coreano, Kim Il Sung e a RPDC foram capazes de, com a genialidade de estrategista militar do Grande Líder, derrotar os EUA na famigerada Guerra da Coreia (1950-1953) obrigando os EUA a assinarem um armistício que esse país imperialista agressor jamais aceitou transformar em um acordo definitivo de paz como propôs por Kim Il Sung e depois reiterou Kim Jong Il.
Para a alegria dos brasileiros, do PPL e minha, da Ana Claudia e da Maíra em particular, o camarada Claudio Campos ocupa hoje um lugar de honra no Museu da Vitória na Guerra da Coreia onde foi colocada com destaque uma foto dele ao lado de Kim Il Sung. Esse museu, um dos mais importantes da RPDC, ficou alguns anos fechado para reformas, foi modernizado e revitalizado e está hoje novamente aberto à visitação pública. O museu fica na capital do país, é um importante centro de estudos históricos da luta anti-imperialista e retrata em detalhes a luta dos coreanos contra a invasão norte-americana à Coreia. Consideramos uma justa homenagem dos coreanos ao Claudio e ao Brasil, um justo reconhecimento aos esforços do Claudio em apoio à luta da Coreia socialista durante toda sua vida desde os tempos da ditadura.

Toda a delegação estrangeira ficou, como eu, muitíssimo bem impressionada com a visita ao “Palácio das Ciências e Tecnologias” e com o encontro com cientistas, técnicos e funcionários do setor da Administração Nacional do Desenvolvimento Aeroespacial. O Palácio é um enorme complexo de edifícios recentemente inaugurado e de moderna e belíssima arquitetura nacional às margens do rio Dedong.
Durante as atividades do Festival algumas personalidades estrangeiras foram recebidas no Palácio dos Congressos Mansudae, sede da Assembleia Nacional Popular Suprema, para serem condecoradas pelo governo por seus trabalhos de solidariedade à RPDC e sua luta anti-imperialista. Fiquei imensamente honrada e agradecida por estar entre essas pessoas. Também recebi um prêmio e um diploma do Comitê de Relações Culturais com o Estrangeiro por minhas atividades literárias.

SISTEMA DE SAÚDE
Já às véspera de voltar para casa tive outra grata surpresa, involuntariamente conheci o sistema de saúde dos coreanos. Impecável. Fui atendida por médicos e enfermeiros, pois não me senti bem. Meu problema não era nada mais que muito cansaço depois de tantas atividades sem intervalos depois de uma longa viagem a partir do outro lado do mundo, mas os coreanos ficaram preocupados e apesar da minha negação em ir, insistiram e me levaram ao hospital. Eu não tinha nada que uma boa noite de sono não resolvesse, mas eles são criteriosos e consideram que em primeiro lugar está a saúde. Fiquei feliz em ver como o povo coreano é tão bem tratado pelo sistema público e gratuito de saúde, agradecida pela atenção a mim dispensada e segura de que lá nenhum estrangeiro precisará de um caro seguro-saúde para ser bem atendido gratuitamente pelo sistema de saúde do governo socialista da República Popular Democrática da Coreia.
Para concluir esse relato já bastante grande devo dizer ainda aos amigos leitores que fiquei imensamente feliz por reencontrar durante a subida do monte Bektu um velho colaborador do HP, Gogiia Gurami, de Moscou, companheiro que traduzia os artigos do jornal Hora do Povo para o russo e traduziu o livro do Claudio, “A história continua” para o russo em 1992 quando esse livro foi publicado em Moscou. Eu conversava com um grupo de companheiros do México, do Peru, da Argentina e da Coreia em espanhol quando ele virou-se para mim e perguntou: “Companheira você é brasileira?”, eu disse que sim. Ele então continuou: “Você conhece no Brasil alguém do jornal Hora do Povo? Eu perdi o contato com eles, mas era eu quem traduzia para o russo os artigos do jornal e do livro do Claudio a quem admiro muito!”.

Foi um grande e emocionante encontro. Conversamos bastante, falei sobre o Brasil, sobre o jornal e ele sobre a Rússia e a Geórgia de onde é originário, e lembramos os velhos tempos e o “Grande Georgiano”. Trocamos endereços e voltamos a ser os velhos amigos que tínhamos sido por tanto tempo, comemorando esse feliz reencontro ao som do murmúrio das águas do transparente Rio Dedong que nos acompanhava até quase as portas de nossas casas em Pyongyang.
Eu já havia ido várias vezes à Coreia, mas dessa vez fiz uma viagem especial. Diferente. Por isso senti necessidade contar aos nossos companheiros leitores alguns dos detalhes principais do que vivi nessa oportunidade na RPDC. A Coreia continua sendo um país sereno, apesar de viverem no momento tensão e provocação jamais vistas desde a época da Guerra Coreana. Mas com uma firmeza férrea em se tratando da defesa da Pátria. Visitei supermercados cheios, com muita gente fazendo compras com carinhos lotados e produtos muito baratos e de excelente qualidade, andei pelas ruas, vi a população bem vestida e tranquila, muitos turistas europeus, chineses, russos e brasileiros, não vi nenhum mendigo pedindo esmolas ou morando debaixo das pontes, nem ninguém passando fome por causa dos investimentos em segurança e tecnologia de ponta. Isso tudo sem ter um único rio poluído ou cidades enevoadas de partículas poluentes, o país todo em total respeito à preservação ambiental “para garantir a qualidade de vida de todo o povo”, segundo dizem. Eles continuam conseguindo caminhar com suas próprias pernas, e cada um com as duas pernas, ao estilo coreano, pois Kim Jong Un mantém a política e os ensinamentos dos grandes homens do Bektu.

A Coreia é um país em franco desenvolvimento, com um grande momento de construção de habitações novas em grandes edifícios modernos e reformas dos prédios mais antigos, reformas de museus e prédios públicos, como o “Museu do Taekwondo” recentemente reinaugurado, investimento na ampliação e modernização do metrô e dos transportes públicos, ampliação das frotas de táxi e empresas de aluguel de carros, tudo estatal pois na Coreia não existe propriedade privada, me diziam sempre, e um grande investimento em esportes, parques aquáticos recreativos, e em particular no futebol que os coreanos gostam tanto e em campeonatos desportivos. Pyongyang hoje não é apenas uma grande metrópole, é uma belíssima e moderna grande metrópole. Quem não conhece não sabe o que está perdendo.
(Publicado originalmente no periódico “Hora do Povo” de 4 e 5 de outubro de 2017)